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Sem olhar a ditados esparvoados que dizem, ao que eu tenho sempre ouvido dizer desde que me lembro, que "de Espanha não vem bom vento, nem bom casamento", decidiu-se criar o Mercado Ibérico de Energia, o MIBEL, para integrar os sistemas de energia de Portugal e Espanha. Não entendo por que carga de água a integração não é europeia mas, enfim! lá nos vamos habituando. Porque ir buscar energia eléctrica a Espanha é como ir ao país dos nossos "hermanos" meter gasolina que sempre é mais barata e a diferença dá para a viagem.
O susto e o desconforto por que passámos há uns dias não é nada como a devastação na Ucrânia ou em Gaza. No entanto, neste país de fadistas lamechas e de toureiros fanfarrões e mariquinhas, levar com um apagão, num dia em que não está frio nem calor, "é o pior que nos podia acontecer". Pois assim é porque falha imaginação aos indígenas que uma vez quiseram "dar novos mundos ao mundo". Nem digo porquê, "está mesmo na cara". E, pior, foi não poder saber quando iria passar o susto, que isto quando mete novas tecnologias logo o tuga, paroquiano "até dizer chega" (vade retro!), as abraça e se apressa a arremessar a telefonia sem fios com as respectivas pilhas para a lixeira comum. Mas ter telefonia, como eu que sou prevenido, que venho de uma era geológica não muito afastada da dos dinossauros, não serve de muito. Habituados que estão à nojeiras das redes sociais e da internet, os jornalistas da rádio mais não sabem que adiantar palpites ou consultar as doutas nulidades que enxameiam os vários pasquins e canais televisivos. Por razões distintas, afastam-se os técnicos e os políticos, os primeiros com as cabeças entre as pernas, os últimos com os rabos.
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Imigrantes ilegais que ocupam clandestinamente as instalações da REN e dormem empilhados uns sobre os outros nem se deram conta do apagão. |
Passado o apagão tudo voltou ao normal. Ou àquilo que passou a ser o novo normal, a solidão e a ignorância ao telemóvel.
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Mal houvera entrado na idade adulta, a Humanidade pregou-me a partida e foi à Lua.
Nessa altura era-se adulto aos vinte e um - o que significava entrar na posse de todos os direitos cívicos, mas isso contava pouco num país e numa época em que os direitos estavam cerceados. Emancipado aos dezoito, já trabalhava havia uns anos. Agora, restava-me ir para a tropa e ser enviado para o mato algures no interior de África. A humanidade foi à Lua a preto e branco e os astronautas não puderam contactar as famílias por Skype ou FaceTime.
Nesse dia senti que perdera a virgindade: o mundo em que caminhávamos era mais vasto que o planeta, a Lua não era mais um disco prateado mas um lugar poeirento em que as pessoas a andar pareciam sapos bêbedos com mochilas às costas.
Foi nessa altura que deixei de andar com a cabeça na lua e se desfizeram uma data de convenções.
A primeira, as fantasias sobre a lua de mel. A Lua deixou de ser um lugar idílico para se marcar encontros amorosos. Isso, porém, não era totalmente verdade porque em frente à igreja, do outro lado da estrada de Benfica, havia uma pastelaria chamada Lua-de-Mel, onde me encontrava com a minha namorada e onde partilhávamos o gosto pela bica e o pastel de nata.
Depois, o sentido de pôr os pés na terra.
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